segunda-feira, 18 de maio de 2015

Sobre os silêncios


Quando vemos alguém em silêncio, podemos pensar que ela não sofre. Podemos pensar que ela passa pelas dificuldades da vida e não se abala. Presos na nossa forma de pensar, não imaginamos que às vezes quem fica em silêncio é o que mais sente. Quem cala prefere ficar quieto, pois sua dor é tamanha, que se fosse falada, seria capaz de quebrar as paredes, os vidros, o teto. Prefere calar para não incomodar aqueles que não tem porque ouvir suas lamúrias. Prefere calar pois acredita que tem tantos que sofrem tanto ou mais que ele, que é até uma ofensa abrir a boca para reclamar de algo.

Quem cala esconde num sorriso amores passados, mágoas reprimidas, sonhos esquecidos. Quem não fala de seus problemas esconde-se deles como se eles não existissem, e vivem alheios a eles. Tem tão pouco tempo para sofrer que quando vêem, o dia já raiou, as responsabilidades já chegaram na sua porta e percebem, cruelmente, que não há tempo para sentar e chorar. O mundo não vai parar para que você conserte seu coração.

Quem prefere calar evita falar da dor para não doer, para não parar, para não sucumbir. Evitam demonstrar fraqueza para fortalecer os outros. Preferem manter um sorriso no rosto, mesmo sangrando por dentro, e por mais que as pessoas lhes digam seus problemas e sobre o que sofrem, os que calam preferem se esconder por trás de uma postura serena para que as pessoas também sejam fortes. E é justamente essa a palavra que define os que silenciam: força. Respiram fundo e num fôlego se reerguem rapidamente, revêem as possibilidades e traçam novos caminhos. Mas sabem que são assim porque a vida lhes moldaram assim: o mundo não dá oportunidades para os que ficam por aí se lamentando. O mundo não sorri para quem se entrega para a tristeza. 

E é justamente essa a lição que devemos aprender com o silêncio do outro: nem sempre quem cala é indiferente. Quem cala prefere guardar para si as coisas que só ele entende, e sabe que parar no meio do caminho para falar do que lhe aflige não vai resolver. Há silêncios que são mais sábios que quaisquer palavras pronunciadas...

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